ARMAS, NÃO
O HOMEM
ARMADO É UM COVARDE
Nelson
Marzullo Tangerini
No dia 11 de setembro de 2021,
todas as emissoras de tv brasileiras fizeram uma retrospectiva sobre os 30 anos
do atentado às Torres Gêmeas, também chamadas de World Trade Center.
Pela minha imaginação, em meio a
um bombardeio de informações, uma aragem amiga me trouxe o poema Elegia 1938 do
gauche itabirano Carlos Drummond de Andrade, do qual retiramos os últimos
versos. Uma profecia?
(...)
“Coração orgulhoso, tens pressa
de confessar tua derrota / e adiar para outro século a felicidade coletiva. /
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição / porque não
podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan”.
Lamentamos, sim, as mortes de
americanos que morreram dentro dos aviões, que se jogaram pelas janelas, foram
soterrados ou se transformaram em poeira naquele triste episódio. Foi um
atentado terrorista, sem dúvida, articulado por islâmicos fanáticos e radicais.
Sejamos humanos e pacifistas. Todo e
qualquer atentado terrorista – cristão ou muçulmano - é um atentado contra a
vida humana. Principalmente, em nome de um deus que não assume sua existência e
se omite.
Mas nenhuma emissora, em meio a
toda esta lembrança macabra, lembrou-se de mostrar as manifestações
antifascistas ocorridas no Chile por conta do golpe militar organizado por Augusto
Pinochet (11 de setembro de 1973), com o apoio dos EUA.
Nenhuma rede de televisão
procurou fazer um levantamento sobre golpes militares no Brasil, na Argentina,
no Paraguai, apoiados pelos EUA. E ninguém fez qualquer comentário sobre o
agente da CIA Sr. Dan Mitrione, que esteve no Brasil durante a ditadura militar,
quando ensinou métodos de tortura a militares brasileiros.
Mitrione, depois de serviços
prestados no Brasil, seguiu para o
Uruguai, onde também lecionaria esses métodos em quarteis uruguaios, até ser morto por guerrilheiros tupamaros numa precisa
emboscada. Amigo de Frank Sinatra, foi homenageado pelo The Voice, no Madison
Square Garden, quando o cantor declarou, para seu público, que o professor, se
assim podemos chamá-lo, “foi assassinado por terroristas no Uruguai”.
Nenhum comentário, também, sobre
a Guerra do Vietnam, ferida exposta nos livros de história. Aliás, ferida que
não se fecha. A nova geração vietnamita aprende, nas escolas, desde cedo, o que
foi a guerra – e sobre o estrago deixado pelos americanos: monumentos sagrados
e históricos destruídos, e, principalmente, uma geração inteira de pessoas
mortas, queimadas ou mutiladas. Inúmeros filmes sobre a Guerra do Vietnam
contam um pouco sobre esta tragédia.
É nessa época que Bob Dylan [Robert
Zimmerman] - compositor, cantor e poeta -, Prêmio Nobel em 2012, escreve a
canção Mestres da Guerra, onde o menestrel faz uma severa crítica a seu país,
da qual retiramos estes versos:
“Venham,
seus senhores / da guerra, / vocês que constroem / as grandes armas, / vocês
que constroem / os aeroplanos da morte, / vocês que constroem / todas as
bombas, / vocês que se escondem / atrás das paredes, / vocês que se escondem /
atrás das mesas. / Eu só quero / que vocês saibam / que eu enxergo através / de
suas máscaras”.
Para Mahatma Gandhi, “Somente as soluções políticas”,
leia-se o diálogo, “vão calar as armas”. O pacifista estava certo quando dizia
que “o homem armado” é, “no fundo, um covarde. A posse de armas”, para ele,
“insinua um elemento de medo, se não mesmo de covardia”.
Não sou matemático – ou
estatístico - para calcular o quanto é gasto em todo o mundo com armas
projetadas para destruir a vida do próximo, enquanto um vírus invisível como a
Covid 19 e, agora, com a sua variante Delta, com suas armas letais e
invisíveis, vêm ceifando inúmeras vidas humanas.
Nossas armas visíveis ou
escondidas (sob o título de segredo militar), são inúteis para evitar a morte
de quem é contaminado por este vírus inteligente, mutante e indecifrável.
A Ciência já não podia estar
preparada para enfrentar esse poderoso vírus? Os países desenvolvidos ou em
busca do desenvolvimento não poderiam deixar de lado a corrida armamentista
para investir em Ciência? Os terroristas não
podem parar com os atentados que ceifam
inúmeras vidas humanas; não podem libertar as mulheres da escravidão?
Enquanto isto, cientistas,
projetam vacinas, às pressas, para salvar vidas.
Não às armas! Não à arrogância!
Não ao negacionismo! Não ao fundamentalismo cristão ou muçulmano! Nós,
habitantes deste Planeta que mais parece um hospício, queremos viver, ter uma
família, fazer Ciência ou Arte! “Diversão e arte”, por certo deixarão nossas
almas mais leves e alongarão nossas vidas.
O “Gabinetes do ódio”, espalhados
por todo o Brasil e todo o mundo, impediram, até agora, que a felicidade fosse
adiada para o século 21, enquanto as palavras de Drummond sobrevivem a um mundo
obcecado pelo porte de armas.
Eu fico com o poeta. E vocês?
Eu já não gostava mesmo do Frank Sinatra. Agora então...
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