DIÓGENES

 

DIÓGENES, O FILÓSOFO QUE PROCURAVA  O HOMEM HONESTO

 

Nelson Marzullo Tangerini

 

               Tive um amigo chamado Diógenes. Seu pai, autodidata, amante da literatura e da filosofia, quando escolheu o nome do seu filho, pensou, certamente, em plagiar Drummond: “Vai, Diógenes, procurar, com sua lanterna, o homem honesto nesta Terra". Isto, se realmente ele existe.

               Não sei por onde anda Diógenes, mas talvez esteja a caminhar por este imenso Brasil com a voz de seu falecido pai a sussurrar em seus ouvidos.

               Para refrescar a memória, Diógenes de Sinope é aquele filósofo que aparece sentado na escada, na célebre pintura renascentista A Academia, do italiano Rafael, acompanhado de alguns de seus cães.

               Nascido em Sinope, antiga Sinuva,  anteriormente uma cidade hitita, na atual Turquia, Diógenes também era conhecido como O cínico. Expulso de sua cidade, o filósofo, criador do cinismo, mudou-se para Atenas, onde teria se tornado um discípulo de Antístenes, antigo pupilo de Sócrates.

               Diz a lenda  que Diógenes, falecido em Corinto, em 323 a.c., andava pelas ruas com uma lanterna na mão, a procura do homem honesto. Contam, ainda, que o filósofo grego teria se tornado um mendigo, vindo a morar no interior de um barril. Ali, vivendo uma vida simples e despojada, longe da corrupção da cidade,  tinha, como amigos, uma boa quantidade de cães.

               A Fundação Erbakan, conservadora, fundada em memória o falecido ministro turco McMettin Erbakan, exige, porém, a remoção da estátua do filósofo que, um dia, zombou de publicamente de Alexandre, O Grande. Alega a Fundação que a estátua traz, consigo, uma ideologia grega a Sinope. No fundo, sabe-se que essas pessoas tentam apagar da história que a Magna Grécia, invadida, perdeu grande parte de seu território.

               Sobre a honestidade, há um ditado popular que diz que “A vantagem de ser honesto é que a concorrência é pequena”.

               Já Victor Hugo, escritor romântico francês, autor de “Os miseráveis”, nos diz que “O homem honesto procura tornar-se útil, o intrigante tenta ser necessário”.

               O Brasil, em meio a rachadinhas, lojas de chocolate, adeptos da cloroquina e do tratamento precoce, as queimadas, a venda ilegal de madeira, a negacionistas, a saudosistas do autoritarismo, do nazifascismo,  do  AI5,  da tortura e a compra de políticos a favor do governo, os homens honestos podem ser contados a dedo, e fica evidente que a corrupção tornou-se, pelo visto, uma herança dos antigos conservadores que assaltaram terras indígenas, em 1500.  Procurar um homem honesto, seria “procurar uma agulha no palheiro”.

                O poema Bossa Nova, Nestor Tangerini, publicado no livro Hummoradas..., Editora Autografia, Rio de Janeiro, RJ, 2016, retrata bem, em poucas linhas, o Brasil que não quer mudar.

 

BOSSA NOVA

 

“BOMBAS”

 

(Poema atômico)

 

A Rússia soltou uma bomba

De cinquenta megatões;

Portugal soltou uma bomba

De cinquenta mil gatões.

A vanguarda é do Brasil,

Terra de heróis e tribunos;

A vanguarda é do Brasil

Que há muito soltou uma bomba

De cinquenta mil gatunos... (*)

 

               O atual presidente, com seus cinquenta mil gatunos, agem impunemente e ainda debocham de nossa cara. Principalmente, da imprensa.

               Receitar medicamentos comprovadamente ineficazes e distanciar o ser humano do conhecimento científico e da história são, certamente,  provas incontestáveis de desonestidade. Mas parece que o brasileiro se acostumou com a corrupção. Aqueles que vão para a rua pedindo a queda deste governo fascista merece nossa adesão. É hora de mostrar que os filhos desta mãe dada gentil não fogem à luta. Estamos cansados. A tristeza nos acompanha diariamente. Queremos a volta da democracia. Queremos respirar.

 

Rodapé:

 

(*) Publicado no jornal A BATALHA,

VI Série – Ano XXVI – pág. 8.

Lisboa, Portugal , maio – junho de 2000.

 

Obs.:

Versão portuguesa para o 1o. verso:

“A Rússia deitou uma bomba”.

 

Também publicado no jornal OBOÊMIO,

Ano 10, no. 154, pág. 6,

Matão, SP, 2/8/2000

             

...

Crônica escrita em 2021.

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