POETA MAZZINI RUBANO

 

MAZZINI RUBANO E O CAFÉ PARIS

 

Nelson Marzullo Tangerini

 

                      Foi minha mãe, Dinah Marzullo Tangerini, quem primeiro me falou sobre o Café Paris, Luiz Leitão, Mazzini Rubano, René Medeiros, Luiz de Gonzaga, Olavo Bastos, Mayrink, Gomes Filho, Apollo Martins e os demais amigos do meu pai. E confesso: fiquei comovido com a triste história do poeta Rubano, falecido ainda jovem.

                      Dinah não conheceu o Café Paris; conheceu apenas os poetas Apollo Martins e Olavo Bastos, que visitaram, um dia, a nossa casa, no Rio. Dinah simplesmente registrou na memória toda as histórias contadas pelo meu pai, com quem se casou, em 1939, e guardou revistas, recortes, fotos, crônicas e poesias daquela época.

                      Alguns dirão que me repito, escrevendo sempre sobre Nestor Tangerini e o legendário Café. Não tenho culpa de ser filho de um dos membros da Roda do Paris. Talvez seja o único descendente e herdeiro de um “parisiense”. O que foi feito da produção literária de cada um deles? Muita coisa se perdeu. Nestor Tangerini, com seus manuscritos, é meu primeiro passo para chegar ao templo sagrado daqueles poetas que sacudiram a formosa cidade de Niterói.

                      Isto é História. É a História de uma cidade. É a História Literária e Intelectual de Niterói. Estou tentando resgatá-la, através dos papéis amarelecidos e frágeis que meus pais me deixaram como herança.

                      Como já lhes disse, tenho um especial carinho por Mazzini Rubano, o retratado desta crônica, apesar de ser fã incondicional de Lili Leitão, o “parisiense” mais próximo de meu pai.

                      Em 1928, Mazzini, mascote da Roda, lança “A Costela que me falta”, um livrinho, contendo poema do mesmo nome. O primeiro e único de toda a sua vida. Edição do Éden Cinema, de Oscar Mangeon, o livro foi impresso nas Oficinas da Penitenciária do Estado do Rio de Janeiro, em Niterói e é dedicado “à memória de Olavo Bastos, Jones Olivieri, Narciso Siqueira e Mário Neves”, freqüentadores do Paris.                    

                      Tangerini admirava o jovem e talentoso poeta. Publicamos aqui um de seus trabalhos, o belo soneto “A Mulher e o Pecado”,  que meu pai dizia merecer uma Academia:

 

 

 

 

“A mulher e o pecado – a razão soberana

do morrer e nascer, de subida em subida,

na triunfal ascensão dessa escalada insana,

pelo Tabor da morte, à Terra Prometida.

 

A mulher e o pecado. A existência profana

Fez Magdala chorar, e ficou redimida!

Paira, acima do sol da inteligência humana

O evangelho do amor, que é a gênese da vida!

 

Ah! Se toda mulher, que a si própria se encanta,

Com a glória de ser mãe, que o ventre seu encerra,

Só depois de pecar é que se torna santa.

 

Cem mil vezes bendito o infernal fogaréu

Do pecado, a inflamar o lodaçal da terra...

Satanás trabalhando ao serviço do céu!”

 

                   O autor, que prometia lançar outros livros, “Algazarra de Chamas” e “Sapatinho Chinês”, faleceu, prematuramente, aos 21 anos, minado pela  tuberculose, em Belo Horizonte, MG, para onde fora, na esperança de encontrar a cura.

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