XOKLENG
OS XOKLENG,
DE SANTA CATARINA
Nelson Marzullo Tangerini
Certa vez, no Museu do Índio, do Rio de
Janeiro, RJ, assisti a uma palestra de um Xokleng, que nos contava a triste
história de seu povo, originário do hoje
Estado de Santa Catarina, no sul do Brasil: suas terras foram desapropriadas
pelo governo de Getúlio Vargas e entregues a colonos alemães, que, ali, cercaram
terras, transformando-as em fazendas, bem como fundaram cidades em estilo
alemão.
Estive duas vezes em SC e vi os Xoleng
na rodoviária de Joinville, vendendo seus artesanatos. Seus olhares eram
tristes, perdidos, pois talvez estivessem pensando nas histórias – e a isto
chamamos de cultura oral – que seus antepassados lhes contaram.
Tive a
mais duas oportunidade de estar com os Xokleng: uma vez, no Colégio Estadual
Antônio Houaiss, onde leciono. A convite da Porfa. Germana Portella, de Artes, um
grupo Xokleng esteve naquele espaço, quando
apresentaram sua cultura e nos presentaram com sua história, tão comum a todos
os povos originários das Américas, vítimas de extermínio.
A
segunda vez foi em 2012, quando encontrei
um grupo Xokleng numa rua do centro de Porto Alegre, Rio Grande do Sul,
onde vendiam artesanato. Tive um breve colóquio com eles e procurei demonstrar
que sabia sobre a expulsão de seu povo das terras ancestrais - em SC.
Resolvi
pinçar esses momentos com os Xokleng por conta dessa onda neonazista que vem
crescendo impunemente, nesses 4 anos, e que volta a nos assustar.
Centrando
minhas atenções, neste momento, nessa questão, percebo que somos levados a nos
preocupar seriamente com o crescimento de células neonazistas (mais de 700) em
todo o território nacional. Algumas delas estão em SC, onde manifestantes,
vestidos de verde e amarelo, fizeram, recentemente, a saudação nazista. Tomo a
liberdade, portanto, de chamá-los de imbecis, para realçar que essas figuras
professam seus ideais autoritários e supremacistas em terras anteriormente
roubadas do povo Xokleng.
Ao meu
zap, chegou um vídeo de uma catarinense pregando que deveriam construir um muro
no nordeste para que os nordestinos não saíssem de lá para o sul e o sudeste.
Dir-me-ão que, num vídeo, um nordestino mostrava um facão, que estava
sendo apresentado aos sulistas. Não assisti a esse vídeo, mas creio que aquele
nordestino fazia alusão às tropas gaúchas que, de bombacha, invadiram Canudos,
no sertão da Bahia, degolando homens, mulheres (mulheres grávidas, inclusive) e
crianças. O extermínio dos canudenses foi relatado por Euclides da Cunha, em Os
Sertões.
Que
fique bem claro isto: que não estou ofendendo os sulistas, chamando-os de
neonazistas. Estou apenas sugerindo que essa gentalha específica retorne para a
Alemanha dos seus sonhos, onde também encontrarão a resistência de
antifascistas e antinazistas. Porque, nas terras de Goethe, ninguém quer assistir
mais uma vez a esse filme: o holocausto, que ceifou mais de seis milhões de
vidas humanas.
Durante
a ditadura militar, a convite do governo autoritário, o Brasil assistiu à
chegada dos sulistas em Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia e Acre. Por
onde passavam, derrubavam as florestas nativas, que, se não se tornavam pasto,
davam lugar a plantações. Chico Mendes tentou evitar esse desastre no Acre. Infelizmente,
o acreano de Xapuri, também conhecido como “Gandhi da Amazônia”, por conta dos
embates que os seringalistas faziam, sem violência, foi assassinado covardemente por madeireiros
paranaenses.
Há
historiadores que sustentam a tese de que a maioria dos alemães queria o
nazismo, enquanto outros acham que o povo alemão entrou naquela catarse movido
pela emoção: Exatamente, como esses loucos que bateram continência para um pneu
e cismaram que o capitão é o Messias prometido pelo Senhor. Outros, porém,
acham que os alemães não tinham como se levantar contra o monstro, uma vez que
a defesa nazista estava fortemente armada. Cansado de pensar no assunto, deixo
essa dúvida para os historiadores.
Alguns,
ingênuos, achavam que o genocida era um sujeito exótico, irritadiço,
temperamental; era “o jeito Hitler de ser”. Achavam, talvez, que ele era apenas
um sujeito falastrão, que não ia comandar o maior massacre da humanidade, hoje
conhecido como “Holocausto”.
A
pergunta que fazemos hoje, em 2022, é: Há espaço para o fascismo ou o nazismo?
E a resposta é sim. Lamentavelmente, é sim. Porque eles têm as fakenews, onde
propagaram que a pandemia era uma gripezinha, que a covid foi elaborada em
laboratório por comunistas, que os professores – principalmente, os de História
– e os jornalistas são todos comunistas, que a urna eletrônica não é confiável,
entre tantas imbecilidades que foram jogadas no ar.
Escutava
Simon & Garfunkel, um dia desses e encontrei, em The Boxer, música e letra
de Paul Simon, que considero um cronista genial e essencial, a frase ideal para
entrar neste texto: “Um homem ainda escuta o que quer escutar e descarta o
resto”. Isto se casa com a tese de Umberto Ecco, de que as redes sociais deram
voz aos imbecis.
...
Dedico esta crônica à minha avó paterna, Domingas
Tambourindeguy, e a meu amigo Paulo Monteiro, ambos gaúchos. Domingas, antenada
com os assuntos políticos da sua época, mantinha, sempre, um pensamento
libertário. Paulo Monteiro, escritor, tem contribuído, com seus textos, para
que o Brasil se torne um país verdadeiramente libertário.
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