ESCRITOR TARCÍSIO TUPINAMBÁ
O PREFÁCIO
DE UM LIVRO JAMAIS PUBLICADO
Nelson
Marzullo Tangerini
Mexendo em papeis velhos, eis
que encontro um livro meu, “Venus de Millus”, perdido, com prefácio do saudoso
escritor Tarcísio Tupinambá, amigo dos tempos em que fui membro do Sindicato
dos Escritores do Rio de Janeiro. Ali, convivi, também, com o escritor José
Louzeiro.
A ditadura agonizava, mas os
reaças continuavam em ação, jogando bombas ou enviando cartas-bombas aqui e
ali.
Mas vamos ao referido prefácio
para um ingênuo e sonhador poeta que procurava se firmar na tão disputada
literatura brasileira:
“TRANSCENDÊNCIA
DO AMOR E DA BELEZA
Aí temos o Nelson Tangerini,
poeta, jornalista, escritor, compositor, nascido em Cascadura, subúrbio do Rio,
do que muito se orgulha. De jornalista passou a poeta, com seu livro “Paulicea
(Ainda) Desvairada, Produção Independente, de 1981.
E, agora, confirma sua
potencialidade com o presente livro de poesias “Venus de Millus”.
Seus versos, ricos, elegantes,
sensíveis, traduzem o fervor do seu coração à beleza, ao amor e à liberdade.
Mas o jovem jornalista formado pela Faculdade Hélio Alonso e no atual estudante
de Português/Literatura da Faculdade São Judas Tadeu, no Encantado, não haveria
de faltar a chama indianista, quando, no seu poema “Páteo do Colégio”, evoca
Bartira, Tibiriçá e Caiubi e lança seu grito de protesto pelo esquecimento a
que foram relegados nossos ancestrais Guianases e Tupiniquins:
“Olho o
letreiro em português, / em hebraico, em espanhol, em italiano, / em árabe, em
francês, em inglês / e sugiro uma antropofagia: / - Por que não em Tupy-Guarany?”
É o poeta integrado na sociedade
que deseja mudar. Sociedade na qual almeja ver seus escritores e seus poetas
engajados na luta pela libertação econômica do Brasil, na valorização dos
nossos valores e pela preservação do que temos de mais autêntico e mais sagrado
que é o nosso passado de lutas personificado na sacrifício indígena brasileiro,
hoje ameaçado de extinção pela cobiça de estrangeiros rapaces e brasileiros
desfibrados.
“Venus de Millus” (Afrodite) foi
a deusa do amor e da beleza. Os gregos criaram uma religião rica em símbolos.
E, assim, a beleza que idealizaram não se limitava à beleza apenas da mulher,
mas a da natureza: das florestas, dos mares, dos pássaros. E dos homens, na sua
integridade social e política. Enfim, uma beleza que merece ser respeitada,
preservada, amada.
E é essa beleza que este
admirável Nelson Tangerini canta através de sua pena de bardo, jovem coberto de
esperança”.
Tarcísio Tupinambá, que
chamávamos carinhosamente de Tupi, foi membro da Diretoria Executiva do
Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro. Escritor e jornalista, publicou
livros muito interessantes como “História da pobreza do homem”, Editora
Achiamé, Rio de Janeiro, RJ, 1983, e “1964, A revolução dos ricos”, Editora Cátedra,
Rio de Janeiro, RJ, 1985, e “Petróleo e
Liberdade”.
O prefácio aqui publicado foi
escrito no dia 7.2.1985.
Lamentavelmente, não tenho
informações a respeito de Tupi, no que refere à data de seu nascimento, bem
como de seu falecimento.
Agradeço se algum leitor puder me
passar esta informação.
Quando ao livro, ele foi
dinamitado e suas poesias foram parar em outros livros. Algumas foram
reescritas, outras foram para a lixeira, por não terem uma consistência
poética.
Fica a lembrança do querido
amigo.
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