MAIORIA FALANTE

 

MAIORIA FALANTE

 

Nelson Marzullo Tangerini

 

               Em abril de 1988, enviei uma carta ao jornal Maioria Falante, tribuna legítima do valoroso Movimento Negro.

               Já nem me lembrava da existência desta carta, que foi encontrada, por acaso, pelo escritor Tom Farias, meu amigo, quando ele pesquisava outro assunto.

               O que fazia eu ali? Protestava contra a exibição de corpos femininos num momento em que a desgastada ditadura apodrecia e ensaiávamos uma frágil democracia.

               Publicada na página 2, a carta mostra como pensava o escritor que vos escreve naquele momento em que a luta contra o racismo e pela emancipação da mulher renovava suas tintas e dava sinais de que uma nova geração, com renovada munição, fortalecia esses antigos movimentos que nunca esmoreceram e incomodaram os conservadores.

              Eis a carta:

               “CARNAVAL

 

               Neste Carnaval (88), as mulheres, lindíssimas, tiraram suas roupas no Monte Líbano, no Scala, entre tantos outros clubes.

               Isto foi documentado pela televisão e por toda a imprensa.

               Quem vê aquele ‘belo’ espetáculo imagina: ‘Vivemos numa Suíça, aqui não há fome, não há marajás, não há escândalos, não há desemprego, aqui todo vota para presidente; o povo brasileiro está feliz, aqui não há discriminação racial, todas as mulheres são iguais.

               Não. As mulheres não são todas iguais. Através desta carta, que endereço ao Maioria Falante, envio o meu amor àquelas mulheres que estão tentando mudar a nossa sociedade – através da arte e/ou da política.

               Não. As mulheres não são iguais. Este sistema, comprometido com o capitalismo, quer desmoralizar a mulher, todo o seu trabalho e toda a sua luta.

               Viva as mulheres revolucionárias!”

 

               Àquela altura, governava o Brasil o presidente José Sarney, que assumiu o poder após a inesperada morte de Tancredo Neves.

               O autor da carta, que na época tinha 33 anos, pode ter errado aqui ou ali – e foi chamado até de conservador -, mas não poderia ser o mesmo depois de ler Maria Lacerda de Moura, Luce Fabri e Emma Goldman, anarquistas que lutavam pela emancipação da mulher.

               Libertárias, deviam ser lidas e relidas para que a luta feminista continue cada vez mais forte.

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