NESTOR TANGERINI NO TEATRO ZAQUIA JORGE
ESTÁ
SOBRANDO MULHER
Nelson
Marzullo Tangerini
O Teatro de Revista Madureira
[ou Zaquia Jorge], localizado nesse bairro, próximo a estação de trens,
conquistou destaque na história do teatro carioca e brasileiro, por se tratar
de uma casa que atraía um bom público suburbano, tão carente de
espetáculos.
Zaquia Jorge, que nasceu a
6 de janeiro de 1924, no Rio de Janeiro, e faleceu na mesma cidade a 22 de abril de
1957, com 33 anos, foi uma vedete e atriz do teatro de revista brasileiro. Conhecida
como a “Estrela do subúrbio” ou a “Vedete de Madureira”, Zaquia tornou-se, no final de 1950, proprietária do único teatro de rebolado do
subúrbio carioca, o Teatro de Revista Madureira.
A ascensão profissional da
atriz foi interrompida quando Zaquia estava com amigas tomando banho de mar na praia da Barra
da Tijuca, no Rio de Janeiro, onde se afogou, até ficar inconsciente e morrer. A vedete morreu depois de gravar sua participação
no filme A Baronesa transviada, de Watson Macedo, lançado no mesmo ano.
“Sua morte, pela grande
repercussão causada entre seus fãs, inspirou um samba-enredo, ‘Madureira Chorou’, de Carvalhinho e
Júlio Monteiro, que se tornou um grande sucesso no Carnaval de 1958, pelo clima
de comoção que expressou a música e o carisma da atriz homenageada. Inspirou
também outro grande samba gravado por Roberto Ribeiro chamado ‘Estrela de Madureira’, que perdeu o
concurso para samba enredo de 1958, mas fez muito mais sucesso que ‘Madureira
chorou’ ”. [*]
Em 1959, Nestor Tangerini
escreve a revista teatral ESTÁ SOBRANDO MULHER, encenada no Teatro Zaquia
Jorge, com patrocínio da Empresa Oswaldo.
Enumeramos aqui alguns
quadros, com respectivos personagens e atores:
ELAS POR ELAS – Inocência –
Dinorah Marzullo [cunhada de Tangerini], Cornélio – Humberto Fredy, Timpanas,
português – Vicente Marchelli; ATÉ O
SENHOR PAGAVA – Cabo 42 – Vicente Marchelli, AMA – Helena, Melindroso –
Evilásio Marçal, Malandro – Humberto Fredy; ESTÁ SOBRANDO MULHER – Comendador –
Evilásio Marçal.
O jornalista Mister Eco,
em sua coluna no extinto periódico Última Hora, escreve a respeito de Nestor
Tangerini e sua peça, em sua coluna
MADRUGADA / MOVIMENTO / “TOURBILLON”:
“12 - Aos apressados que
pretenderam corrigir Nestor Tangerini, por Ter usado o título Está Sobrando
Mulher para a revista do Teatro Zaquia Jorge, achando que o certo deveria ser
Estão Sobrando Mulheres, Mister Eco aconselha travar relações com sinédoque –
se isso é palavra que se escreva – é figura de estilo que autoriza aquela
construção gramatical e naturalmente foi usada por Nestor Tangerini, que não é
nenhum Jota Maia gentes. Além de revistógrafo, Nestor Tangerini é douto em
sintaxe”.
Tangerini escreveria ainda, no
início dos anos 60, mais duas revistas: NÃO “CASTIGA” O OROZIMBO, encenada, mais
uma vez, no Teatro Zaquia Jorge, em 1960, e GRITO DE CARNAVAL, em cuja peça
trabalhou Otávio França, marido da atriz Luísa França, que, até sua morte,
visitava sua amiga Dinah, em Piedade.
Estas e outras peças de
Nestor Tangerini, citadas aqui, podem estar perdidas para sempre, se não
estiverem apodrecendo no depósito da Censura Federal, em São Cristóvão, no Rio
de Janeiro [RJ].
Muitos textos do autor perderam-se
em nossa casa, em 1966, quando toda a Cidade do Rio de Janeiro estava sob as
águas das fortes chuvas de uma catástrofe impiedosa. Naquele mesmo ano, não
sabíamos se cuidávamos de Nestor Tangerini, que se despedia lentamente de nós,
vítima de câncer, ou se salvávamos a sua preciosa obra. Nestor Tambourideguy
Tangerini, nascido em Piracicaba, SP, a 23 de julho de 1895, veio a falecer no
dia 30 de Janeiro de 1966, no Rio de Janeiro, o que foi, para mim, a segunda
catástrofe.
O pouco que sobrou – e é muita coisa, salva
por sua esposa, Dinah, minha mãe -, vem
sendo publicado, por mim, através das editoras Nitpress ou Autografia.
Em 1996, sai, pela Editora
Achiamé, o livro Dona Felicidade, reeditado, posteriormente, em 2017, pela
editora Autografia , com acréscimo de escritos encontrados entre uma enorme
quantidade de textos datilografados ou manuscritos.
Enfim, procurei cópias destas
e outras peças do autor em arquivos da SBAT, Sociedade Brasileira e Autores
Teatrais, e Biblioteca Nacional. Nada foi encontrado.
O que achamos inadmissível
é a exclusão do nome de Nestor Tangerini da história do teatro brasileiro. Ou é
falta de pesquisa por parte de jornalistas, historiadores e memorialistas ou é
mesmo má vontade dessas igrejinhas que
procuram beneficiar sua rodinha de
amigos.
[*] O autor
deste texto buscou informações sobre Zaquia Jorge no Wikipédia, a enciclopédia
livre.
Comentários
Postar um comentário