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Mostrando postagens de junho, 2024

O ETERNO MACHADO DE ASSIS

  A PERENDADE DE MACHADO DE ASSIS   Nelson Marzullo Tangerini                  Em 1870, Machado de Assis, ainda romântico – e poeta -, lançava seu livro “Falenas”, onde encontraremos o poema, “Quando ela fala”, que ora publicamos: . “’She speaks! O speak again, bright angel!’ Shakespeare . Quando ela fala, parece Que a voz da brisa se cala, Talvez um anjo emudece                       Quando ela fala. . Meu coração dolorido As suas mágoas exala. E volta ao gozo perdido                        Quando ela fala. . Pudesse eu eternamente, Ao lado dela, escutá-la, Ouvir sua alma inocente                      Quando ela fala. . Minh´alma, já semimorta, Conseguiria ao céu alcançá-la, Porque o céu abre uma porta                       Quando ela fala .                  No decorrer desta crônica, verá o leitor que a alma iluminada do Bruxo do Cosme Velho ou passeou pelos salões do legendário Café Paris, de Niterói, ou conduziu para lá

MAIORIA FALANTE

  MAIORIA FALANTE   Nelson Marzullo Tangerini                  Em abril de 1988, enviei uma carta ao jornal Maioria Falante, tribuna legítima do valoroso Movimento Negro.                Já nem me lembrava da existência desta carta, que foi encontrada, por acaso, pelo escritor Tom Farias, meu amigo, quando ele pesquisava outro assunto.                O que fazia eu ali? Protestava contra a exibição de corpos femininos num momento em que a desgastada ditadura apodrecia e ensaiávamos uma frágil democracia.                Publicada na página 2, a carta mostra como pensava o escritor que vos escreve naquele momento em que a luta contra o racismo e pela emancipação da mulher renovava suas tintas e dava sinais de que uma nova geração, com renovada munição, fortalecia esses antigos movimentos que nunca esmoreceram e incomodaram os conservadores.               Eis a carta:                “CARNAVAL                  Neste Carnaval (88), as mulheres, lindíssimas, tiraram suas

RAUL SEIXAS

  LEMBRANDO-ME DE RAUL SEIXAS   Nelson Marzullo Tangerini                  Quando soube da morte de Raul dos Santos Seixas, senti que, dali para adiante, muita mediocridade tomaria nossas rádios de assalto, ainda que a resistência tentasse quebrar este muro que, enfim, se partiu, para eles, e invadiu a nossa praia.                  Sentei-me à mesa e escrevi um texto sobre Raul, texto que enviaria, posteriormente, para os jornais do Rio. O Dia a publicou e eu fiz o meu registro: porque o conheci , num momento em que ele era um mero espectador de um show de Ney Matogrosso. Dinah, minha mãe,   que   estava presente no show, por ser fã de Ney, ficou fascinada com a presença do astro. Ela era igualmente   fã de Raul e também foi falar com ele.                Eis minha missiva, publicada na seção “CARTAS NA MESA [Cartas dos leitores], do jornal O Dia, p. 4, Rio de Janeiro, RJ,   Segunda-feira, 2.10.1989:                 “ Ele era baiano de Quengunhem, ‘onze horas de mula e 1

HISTÓRIA

A HISTÓRIA NADA NOS ENSINARÁ?   Nelson Marzullo Tangerini                 É possível que a História não nos ensine mais nada. Penso assim porque estamos diante do crescimento assustador do neofascismo que já grassa pela Europa e Américas.                  O que leva os jovens, que podem ter bons   livros de História em suas mãos, a terem uma atração fatal pelo autoritarismo de extrema direita? Paralelo a isto, são alimentados por uma série da fakenews que tentam desconstruir o conhecimento científico: a Biologia, a Filosofia, a Sociologia, a Antropologia e a História.                Todos aqueles que pensam diferente e se opõem ao nazismo, ao fascismo, ao etnocentrismo são considerados comunistas. E, portanto, devem ser combatidos.                Inconformados com a derrota do capitão nas urnas, o gado acéfalo, que segue o genocida nos pastos verdejantes do país, ao invés de se aprimorar intelectualmente, gasta o seu tempo inventando fakenews ou pedindo o impeachment do

AMIGO INFIEL

  AMIGO INFIEL   Nelson Marzullo Tangerini                  Por volta de 1956, quando eu começava a dar meus primeiros passos sobre os dois pés, apareceu, em minha casa, em Piedade, um cidadão chamado Evilásio Marçal.                Ator menor no teatro brasileiro, ele queria que meu pai, Nestor Tangerini, lhe desse um monólogo novo, inédito, para ele apresentá-lo em palcos de São Paulo.                Tangerini lhe disse que não tinha nada de inédito, embora mantivesse na gaveta o monólogo “O buraco”, ainda sem registro.                Evilásio insistiu para que o autor em questão raspasse o fundo da gaveta para saber se, ali, havia algum texto rascunhado, ainda não alinhavado.                Ingênuo, o teatrólogo lhe disse, então, que tinha um monólogo, mas não o liberaria porque o trabalho ainda não estava registrado.                “- Tenho medo de que alguém possa tomar posse do texto”. – declarou Tangerini.                Fingindo lealdade, Evilásio argumentou

LIMA BARRETO

  O SUBÚRBIO E LIMA BARRETO   Nelson Marzullo Tangerini.                                                                                            Em “Clara dos Anos”, Lima Barreto escreveu que “O subúrbio é um refúgio dos infelizes. Os que perderam o emprego, as fortunas, os que faliram nos negócios, enfim, todos os que perderam a sua situação vão-se aninhar ali”.                Affonso Henriques Lima Barreto nasceu a 13 de maio de 1881, passou a infância e a adolescência na Ilha do Governador e viveu, posteriormente,   uma vida plenamente suburbana no bairro de Todos os Santos, perto do Méier. Negro, suburbano e anarquista, “enquadrado” como um escritor pré-modernista, propôs uma nova arte literária, avessa à literatura burguesa vigente em sua época.                Mas o subúrbio, apesar dos reveses, do esquecimento, deixou nomes importantes na música ou na literatura brasileira: Cruz e Sousa (Encantado), Noel Rosa (Vila Isabel), Cecília Meireles (Estácio), Pixinguinha (

WASHINGTON LUÍS

  WASHINGTON LUIZ   Nelson Marzullo Tangerini                       No início de 2008, um aluno meu, Washington Luiz Loureiro de Morais, do Colégio Estadual Antônio Houaiss, na Boca do Mato, subúrbio do Rio de Janeiro, me surpreendeu, presenteando-me com inúmeros cartões com caricaturas de diversas personalidades, contendo neles breves biografias.                     Provavelmente, esses cartões foram encontrados nalgum sebo do Rio. Ignoro, portanto, quem teria publicado esta preciosidade.                       Gostaria até que algum leitor – ou colecionador – me corrigisse e me dissesse quem desenhou os tais cartões e quem escreveu essas rápidas e interessantes biografias.                     Decido falar do político Washington Luís Pereira de Sousa, nascido na cidade de Macaé, Estado do Rio de Janeiro, a 26 de outubro de 1870. Até porque gostaria que lhes mostrar uma caricatura cubista do ilustre fluminense, feita pelo caricaturista Nestor Tangerini, que publicou inúmer

NESTOR TANGERINI NO TEATRO ZAQUIA JORGE

  ESTÁ SOBRANDO MULHER   Nelson Marzullo Tangerini                       O Teatro de Revista Madureira [ou Zaquia Jorge], localizado nesse bairro, próximo a estação de trens, conquistou destaque na história do teatro carioca e brasileiro, por se tratar de uma casa que atraía um bom público suburbano, tão carente de espetáculos.                       Zaquia Jorge, que nasceu a 6 de janeiro de 1924, no Rio de Janeiro,   e faleceu na mesma cidade a 22 de abril de 1957, com 33 anos, foi uma vedete e atriz do teatro de revista brasileiro. Conhecida como a “Estrela do subúrbio” ou a “Vedete de Madureira”,   Zaquia tornou-se, no final de 1950,   proprietária do único teatro de rebolado do subúrbio carioca, o Teatro de Revista Madureira.                      A ascensão profissional da atriz foi interrompida quando Zaquia estava com   amigas tomando banho de mar na praia da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, onde se afogou, até ficar inconsciente e morrer.   A vedete morreu depois