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Mostrando postagens de julho, 2023

CELIBES

  FUTURO DOS CELIBES   (Do Espanhol)   Nestor Tambourindeguy Tangerini                          Corria o ano de 1860, em uma hospedaria de S. Sebastião conversavam dois viajantes, um de quarenta e seis anos e outro de mais idade.                        O primeiro, que viajava só, encarecia as vantagens do celibato, que lhe proporcionava a liberdade da qual carecia o segundo, que era casado e viajava com a família.                        - É certo, disse o mais velho, que vocês, os celibes, são felizes até aos cinqüenta anos;   mais sabe Deus quão cara pagam sua felicidade dessa idade em diante!                        Riu-se o outro, em tom de incredulidade, e falou:                        - Admitindo que seja isso verdade, sempre temos, os solteiros, grande vantagem sobre os casados, e é a de liberdade de escolha de estado quando vocês se sentem mal com a cruz do matrimônio, senhores não são de se desfazerem dela; nós, porém, quando mal nos sentimos sem esta cruz, s

A VIAGEM

  A VIAGEM DE FERNANDO   Nelson Marzullo Tangerini             A minha viagem era longa, até ao local de trabalho - caísse chuva, fizesse frio ou calor. Como sempre, saí bem cedo de casa, uma vez que lecionava numa escola no interior do Estado do Rio de Janeiro. Pegava dois ônibus; muitas vezes, um ônibus e uma   van.            Ao chegar à escola, fiquei sabendo que um dos alunos, um menino tranquilo e educado, desmaiara dentro da escola. Levado para o hospital mais próximo, pela diretora, suspeitamos que Fernando – vou chama-lo assim –   havia se drogado.            Muito tempo passou fora do ar, quase todo o dia, até abrir os olhos e descrever sua loucura: havia tomado um calmante fortíssimo e cheirado cocaína.            Seus pais, trabalhadores humildes, foram comunicados e tiveram de comparecer ao hospital. E, depois, foram convidados para uma reunião com a direção da escola.              Ficamos sabendo, então, pelo aluno, que, naquela época, maconha e cocaína er

POETA MAZZINI RUBANO

  MAZZINI RUBANO E O CAFÉ PARIS   Nelson Marzullo Tangerini                         Foi minha mãe, Dinah Marzullo Tangerini, quem primeiro me falou sobre o Café Paris, Luiz Leitão, Mazzini Rubano, René Medeiros, Luiz de Gonzaga, Olavo Bastos, Mayrink, Gomes Filho, Apollo Martins e os demais amigos do meu pai. E confesso: fiquei comovido com a triste história do poeta Rubano, falecido ainda jovem.                       Dinah não conheceu o Café Paris; conheceu apenas os poetas Apollo Martins e Olavo Bastos, que visitaram, um dia, a nossa casa, no Rio. Dinah simplesmente registrou na memória toda as histórias contadas pelo meu pai, com quem se casou, em 1939, e guardou revistas, recortes, fotos, crônicas e poesias daquela época.                       Alguns dirão que me repito, escrevendo sempre sobre Nestor Tangerini e o legendário Café. Não tenho culpa de ser filho de um dos membros da Roda do Paris. Talvez seja o único descendente e herdeiro de um “parisiense”. O que foi f

DIÓGENES

  DIÓGENES, O FILÓSOFO QUE PROCURAVA   O HOMEM HONESTO   Nelson Marzullo Tangerini                  Tive um amigo chamado Diógenes. Seu pai, autodidata, amante da literatura e da filosofia, quando escolheu o nome do seu filho, pensou, certamente, em plagiar Drummond: “Vai, Diógenes, procurar, com sua lanterna, o homem honesto nesta Terra". Isto, se realmente ele existe.                Não sei por onde anda Diógenes, mas talvez esteja a caminhar por este imenso Brasil com a voz de seu falecido pai a sussurrar em seus ouvidos.                Para refrescar a memória, Diógenes de Sinope é aquele filósofo que aparece sentado na escada, na célebre pintura renascentista A Academia, do italiano Rafael, acompanhado de alguns de seus cães.                Nascido em Sinope, antiga Sinuva,   anteriormente uma cidade hitita, na atual Turquia, Diógenes também era conhecido como O cínico. Expulso de sua cidade, o filósofo, criador do cinismo, mudou-se para Atenas, onde teria se to

ARMAS, NÃO

  O HOMEM ARMADO É UM COVARDE   Nelson Marzullo Tangerini                  No dia 11 de setembro de 2021, todas as emissoras de tv brasileiras fizeram uma retrospectiva sobre os 30 anos do atentado às Torres Gêmeas, também chamadas de World Trade Center.                Pela minha imaginação, em meio a um bombardeio de informações, uma aragem amiga me trouxe o poema Elegia 1938 do gauche itabirano Carlos Drummond de Andrade, do qual retiramos os últimos versos. Uma profecia?                  (...)               “Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota / e adiar para outro século a felicidade coletiva. / Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição / porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan”.                 Lamentamos, sim, as mortes de americanos que morreram dentro dos aviões, que se jogaram pelas janelas, foram soterrados ou se transformaram em poeira naquele triste episódio. Foi um atentado terrorista, sem dúvida, a

GENOCÍDIOS

  OS GENOCÍDIOS CONTINUAM   Nelson Marzullo Tangerini                    Após ler minha crônica “Amazônia for salle”, uma professora, amiga de muitos anos, me faz uma observação: “Você não falou dos índios, vítimas deste governo genocida”.                Pois bem, começo, então, por uma declaração de nosso ilustre e culto presidente, que declarou, não faz muito tempo, que mais felizes eram os Estados Unidos, que dizimaram inúmeras tribos indígenas em seu território.                Convidado a assistir a uma palestra num centro espírita do Méier, acabei por ouvir a oradora explanar sobre a “grandeza” dos Estados Unidos da América, país democrático, que soube abraçar culturas apostas às suas.                Como não podemos interpelar um orador no meio de uma palestra espírita, quando uma audiência obediente   e sem questionamentos a assiste, deslembrada, esperei até ao final da exposição para perguntar se a oradora, professora de inglês, havia lido o livro “Enterrem meu co

ANNE FRANK 2

  A VIDA BREVE E INTENSA DE ANNE FRANK   Nelson Marzullo Tangerini                  Foi mesmo preciso reler Anne Frank, após 40 anos, quando me aproximo dos 70, para ver o holocausto com os olhos críticos da maturidade.                Anne, que na verdade se chamava Annelies   Marie Frank, nasceu em Frankfurt am Main, Alemanha, a 12 de julho de 1929. Ainda criança, mudou-se para Amsterdã, Holanda, com os pais e a irmã.                A autora do Diário, que desejava ser jornalista e escritora, foi capturada, aos 14 anos,   pela SS e enviada para o campo de concentração de Bergen-Belsen, na Alemanha, onde veio a ser assassinada, em fevereiro de 1945.                Apaixonada por literatura, jornalismo e história, vivia mergulhada em livros diversos.                Recorto, aqui, um momento em que ela lê, num livro de História, uma breve passagem sobre o Brasil [Carta escrita no domingo de manhã, pouco antes das 11 horas, no dia 16 de abril de 1944, ano em que as tropas

ANNE FRANK 1

  RELER OS CLÁSSICOS   Nelson Marzullo Tangerini                  Depois de quase 40 anos, volto a reler o Diário de Anne Frank, daquela menina judia que foi sequestrada pelos nazistas na Holanda ocupada e que, por fim, veio a morrer num campo de concentração nazista.                Faço isto depois de ler o Tatuador de Auschwitz, de Heather Morris, que narra a dura e triste história de Lale Sokolov e Gita, um casal de judeus eslovenos, também capturados pelos nazistas.                Considero clássicos todos esses livros que resgatam a história do holocausto. E em momento algum vou citar o nome daquele monstro que proporcionou tanto sofrimento aos judeus e suas famílias. Sei que seu nome, infelizmente,   entrou para história, mas não quero citá-lo aqui.                Quanto ao Diário de Anne Frank, sugiro que o livro passe por uma nova e rigorosa revisão, uma vez que há inúmeros erros de português nos textos traduzidos. O tradutor, por exemplo, não respeita os verbos r

ÁFRICA

  A ÁFRICA TÃO PERTO DE NÓS   Nelson Marzullo Tangerini                  Quando uma pessoa tem consciência de História, percebe, com lucidez, que a África não está tão distante de nós, apesar de o continente africano estar   do outro lado do vasto Oceano Atlântico. Ele está dentro de nós, ainda que sua pele se apresente como branca.                Lamentavelmente, no Brasil, muitos ainda querem ter aparência europeia, ou esconder um parente afrodescendente distante por conta dos anos, como aconteceu com Rufina de Oliveira Soares, uma de   minhas bisavós maternas, casada como meu bisavô português Manuel Gomes Soares. Sua fotografia sumiu (sumiu?), misteriosamente, para todo o sempre.                Descendente   de um longínquo marroquino, o sr. Assuf Tangerini deixou-me este sobrenome africano que ora carrego. Do Marrocos, norte da África, talvez de Tânger, Assuf foi tentar a vida na Itália, onde se casou com uma italiana. E dele, vieram Vicenzo, Vittorio, Nestor e Nelson.

VICENTE CELESTINO E OS MARZULLO

  VICENTE CELESTINO E OS MARZULLO   Nelson Marzullo Tangerini                    Nasceu, em 1946, após filmarem O Ébrio, uma sólida amizade entre o ator, cantor e compositor Vicente Celestino e a atriz Antônia Marzullo, minha querida avó materna.                     Descendente de italianos calabreses, nasceu Antônio Vicente Filipe Celestino a 12 de setembro de 1894,   no Rio de Janeiro.                    Em 1955, quando completava 61 anos, um grupo seleto de amigos prestou-lhe uma grande homenagem.                     Antônia pediu, então, ao filho Maurício que escrevesse algo para a comemoração. O poeta Maurício Marzullo, sempre inspirado e bem humorado, escreveu um poema em dialeto caipira; poema, enfim, que foi lido na noite do dia 11/9/1955, num domingo, no palco do Teatro Carlos Gomes, da então Capital Federal, por sua irmã, Dinorah Marzullo, também atriz.                    Eis o poema:   “SALVE O CELESTINO!                                        “Ao gra